quarta-feira, 25 de abril de 2012

#CotasSim


   Hoje, a partir das 14h, o STF deve julgar a polêmica questão das cotas nas universidades (conforme já noticiado aqui no blog).
   Percebi que o "#CotasSim" está nas primeiras posições entre os assuntos mais tuitados no mundo todo. Resolvi clicar para saber quais os argumentos que estão sendo utilizados.
   Em um dos links, achei uma pesquisa muito interessante sobre o rendimento acadêmico dos alunos que entraram na UERJ através do sistema de cotas.
   A matéria não é nova (é de 2003), mas com a iminência do julgamento pelo STF, parece-me que o resultado da pesquisa volta a ganhar relevância.
   A matéria a seguir compartilhada foi publicada no site "notícias.universa", fazendo referência, como fonte, ao site da Folha Online (Folha.com).

Aprovado por cota se sai melhor na UERJ
15/12/2003
Os alunos que entraram por algum critério de cotas na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) no primeiro semestre letivo deste ano tiveram rendimento acadêmico superior e taxa de evasão menor em relação aos estudantes que conquistaram a vaga sem ter direito ao benefício.
É o que revela estudo elaborado pelo Programa de Apoio ao Estudante da universidade. Os dados mostram que, ao menos no primeiro semestre letivo do primeiro ano da reserva de vagas na instituição, não houve o impacto negativo, temido por alguns, no rendimento acadêmico dos alunos que chegaram à Uerj pelas cotas.
O estudo deve reforçar os argumentos dos defensores da introdução de cotas raciais ou para alunos carentes em todas as universidades públicas do país.
(...)
De acordo com o estudo, no campus principal da Uerj, que concentra a maioria dos cursos, 47% dos estudantes que entraram sem cotas foram aprovados em todas as disciplinas do primeiro semestre. Entre os estudantes que entraram no vestibular restrito a alunos da rede pública, a taxa foi um pouco maior: 49%.
A instituição adotou também o critério racial no seu vestibular com cotas. Entre os que se autodeclararam negros ou pardos, a taxa foi também de 49%.
A comparação inversa também é favorável aos cotistas. A porcentagem de alunos reprovados em todas as disciplinas por nota ou frequência entre os não-cotistas foi de 14%. Entre os que ingressaram pelo vestibular para alunos da rede pública, a porcentagem foi de 4%. Entre os autodeclarados negros ou pardos, de 7%.

Falta de apoio
Além de terem um rendimento acadêmico ligeiramente superior, os cotistas abandonaram menos os cursos, mesmo sem ter recebido apoio financeiro do Estado. Entre os não-cotistas, a taxa de evasão no primeiro semestre foi de 9% dos estudantes. Essa porcentagem foi de 3% entre os ingressantes pela rede pública e de 5% entre os autodeclarados.
A Uerj considera como aluno que abandonou o curso apenas o estudante que foi reprovado por frequência em todas as disciplinas do primeiro semestre e que não fez a matrícula para o segundo semestre letivo da instituição.
"O acompanhamento dessa primeira turma que entrou na Uerj por cotas mostra que a universidade não teve prejuízo acadêmico com esses estudantes", afirmou o coordenador do estudo e do Programa de Apoio ao Estudante, Cláudio Carvalhãs.

Nota no vestibular
Os dados mostram também que, ao menos para a primeira turma de cotistas, o resultado do vestibular não foi determinante no desempenho acadêmico.
A nota de corte dos alunos cotistas na segunda fase do vestibular foi inferior à dos demais alunos. A maior disparidade ocorreu no curso de odontologia, em que um aluno cotista foi aprovado com nota 6,25 sobre um total de 110, enquanto o estudante aprovado pelo vestibular tradicional teve nota de corte 77,5.
O acompanhamento no primeiro semestre desse aluno que tirou 6,25 no vestibular mostrou que ele foi aprovado em todas as disciplinas do curso de odontologia, considerado um dos mais difíceis.
O estudo coordenado por Carvalhãs comparou ainda o rendimento acadêmico dos alunos por área. Os cotistas tiveram desempenho ligeiramente superior nos cursos das áreas de humanas, biomédica e ciências sociais.
O resultado só não foi melhor para os cotistas nos cursos da área de tecnologias e ciências --que concentra disciplinas que, tradicionalmente, apresentam altos índices de reprovação, como as que envolvem cálculos matemáticos.
Apesar de o estudo indicar um resultado favorável aos cotistas, Carvalhãs alerta que é preciso continuar acompanhando o rendimento dos estudantes para chegar a conclusões consolidadas.
(...)
Carvalhãs suspeita que os estudantes carentes que ingressaram por cotas na Uerj tiveram neste ano um incentivo maior para superar possíveis dificuldades financeiras que poderiam prejudicar seu rendimento. Ele teme, no entanto, que esse quadro mude caso não haja ajuda financeira logo no primeiro ano de vida desse estudante na universidade.


3 comentários:

  1. Link para a matéria completa:

    http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2003/12/15/526216/aprovado-cota-sai-melhor-na-uerj-PRINTABLE.html

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  2. Recebi essa carta do pessoal do Centro Acadêmico do Direito da UERJ (mesma Universidade referida acima) e achei interessante compartilhar.

    CARTA ABERTA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

    “Que [a Universidade] se pinte de negro, que se pinte de mulato. Não só entre os alunos, mas também entre os professores. Que se pinte de operários e de camponeses, que se pinte de povo, porque a Universidade não é patrimônio de ninguém, ela pertence ao povo.” - Ernesto Che Guevara

    Nós, estudantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, manifestamos diretamente nosso sentimento, neste momento decisivo da história do combate às desigualdades sociais e raciais em nosso país.Como estudantes de uma instituição pública que adota o sistema de reservas de vagas em seu exame de ingresso há dez anos, a serem completos neste ano de 2012, podemos dizer que, felizmente, estudamos em um ambiente mais democrático, menos desigual e, principalmente, mais brasileiro. Afirmamos a brasilidade de nossa Universidade no sentido do Brasil que desejamos, pelo qual trabalhamos e que sabemos ser a busca desta Corte Suprema, bem como de todo o poder judiciário nacional e dos Poderes legislativo e executivo nacionais.O sistema de cotas, em nossa Universidade, reserva vagas para estudantes que comprovadamente se encontram em desvantagem econômica, de modo que tais vagas sejam preenchidas, conforme porcentagem, por pessoas com deficiências, por filhos de policiais civis e militares, de bombeiros militares e de inspetores de segurança e administração penitenciária, mortos ou incapacitados em razão do serviço, e por índios e negros. Tal reserva de vagas, na UERJ, dá-se em cumprimento à lei estadual 5.346/08, a qual busca concretizar não apenas as disposições do art. 3º da Constituição Federal, mas também às determinações de leis especiais, tal como o Estatuto da Igualdade Racial, disposto pela lei 12.288/10, que dispõe sobre as ações afirmativas.A partir do ingresso desses estudantes, há dez anos, observamos uma mudança completa no ambiente de nossa formação acadêmica cujas consequências foram apenas benéficas. No momento da adoção do sistema de reserva de vagas, porém, muitas críticas foram levantadas, como o são até hoje e despertam a ação aqui discutida. As críticas, no entanto, nada mais revelam do que o total desconhecimento das reais necessidades da Universidade brasileira e, por isso, as acusações ao sistema de cotas devem ser veementemente rebatidas e o são, pelos estudantes que assinam esta carta e que, sem dúvidas, ganham adesão da sociedade nacional e desafiam os condenadores do sistema debatido a provarem a concretização de quaisquer de seus argumentos.

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  3. (continua)

    Após dez anos de adoção das cotas, é possível observar que, conforme constatado em diversos estudos sobre o tema, os estudantes cotistas correspondem à oportunidade que conquistam com resultados que podem ser equiparados ou que até mesmo superam aqueles obtidos por estudantes que ingressaram na Universidade pelo regime tradicional de preenchimento de vagas.O crescimento do ódio racial, por sua vez, que muitos alegaram ser inevitável em um sistema no qual haveria distinção por etnia para o ingresso no ensino superior, não é característica de modo algum notável em nosso ambiente acadêmico. Ao contrário, notamos que a diversidade que vivenciamos em nosso ambiente universitário e que reflete, de fato, o Brasil, possibilita um enriquecimento de nossa formação acadêmica e pessoal que, até o momento, não possui equivalente em instituições de ensino que não adotam o sistema.Note-se, ainda, que a distinção dos estudantes, para ingresso nos cursos de ensino superior, proporcionou para a Academia, não apenas a diversidade, mas também o estímulo ao debate sobre a existência do racismo, em nossa sociedade, e a busca por instrumentos e políticas para combatê-lo, como mecanismo de seu desenvolvimento. São formados, assim, sem distinção alguma de tratamento, profissionais de excelência, em todas as áreas do conhecimento, capazes de refletir e dispostos a, em breve, pintar de todas as cores os cargos de liderança de nossa nação. A experiência de adoção do sistema de reserva de vagas em nossa Universidade também provou ser falsa a ideia por alguns alegada de que aquele violaria a meritocracia historicamente adotada no ingresso à Universidade brasileira. Neste ponto, revela-se nada mais do que a ausência de compreensão a respeito da forma de ingresso nos cursos de graduação a partir do sistema de cotas, visto que este exige, dos estudantes que o utilizam, a aprovação no mesmo e difícil exame de vestibular prestado por aqueles que não se valem das vagas reservadas.Logicamente, ainda há muito a ser feito, em nossa Universidade, pois é preciso que aos estudantes cotistas seja oferecido todo o suporte necessário à sua permanência nos cursos de graduação, em especial financeiramente, sendo necessário o aprimoramento desse auxílio. O sucesso das cotas, na UERJ, entretanto, revela a importância e, ainda mais, a necessidade de sua adoção nas demais instituições públicas de ensino superior do país, visto que ele impulsionará, em um futuro próximo, a redução das desigualdades sociais e raciais de nosso país, a partir do preenchimento de nossos quadros profissionais por cidadãos de todas as origens.Para tal, é essencial que este tribunal acolha a demanda dos estudantes e do povo brasileiro e reconheça a constitucionalidade do sistema de cotas, em sua integralidade, o que inclui a reserva de vagas por critérios de origem social e racial. Esse reconhecimento será não apenas a promoção da justiça, mas também o passo deste tribunal que revelará a sua determinação em buscar o desenvolvimento e a construção do país efetivamente desejado por todos.

    Rio de Janeiro, 25 de abril de 2012.
    Membros da gestão Reconstruindo o CALC, do Centro Acadêmico Luiz Carpenter

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